martes, 20 de noviembre de 2012

1975 - JÓIA - A outra metade é QUALQUER COISA


"Ia ser um álbum duplo, porque eu tinha muito material. Aí resolvi fazer dois discos, cada um com um título. O Jóia era a minha relação com o trabalho limpo, pequenas peças bem acabadas, com a liberdade de Araçá Azul. Não tem nem bateria no Jóia, um instrumento do qual eu não gostava. Cada faixa era uma jóia. Qualquer coisa era o vale tudo, bateria, confusão. O manifesto do Jóia e o manifesto do Qualquer Coisa, lidos juntos, tem um batimento engraçado. O Jóia foi o único que reouvi em CD. Soa tão bonito... Adoro o silêncio do CD. Gosto de "Na Asa do Vento" e em "Minha Mulher" é maravilhoso o relaxamento meu e de Gil ao violão, que não encontro em outra faixa de Jóia. Qualquer Coisa é que era relaxado. Gosto da faixa "Qualquer Coisa", mas na gravação a canção ficou presa. O Roberto Carlos reclamou que eu não tinha dado pra ele "Qualquer Coisa". Devia ter dado. Ia cantar tão lindo, tão profissional. É curioso. A letra mais abstrata do Brasil, cheia de referências, um título de filme de Rogério Sganzerla, todo mundo cantou. Qualquer Coisa vendeu muito mais que Jóia. Uma coisa assim de 60.000 contra 30.000."


[Caetano Veloso, 16/5/91]



1975
Revista Fatos e Fotos
n° 699
Ano XV - 13 de janeiro de 1975














 











1975
J Ó I A
Phonogram/Philips LP 6349 132 / CD 838.559-2 [1990]

Dirección de producción: Caetano Veloso y Perinho Albuquerque
Lanzado en el mes de abril

Lado A
1. MINHA MULHER (Caetano Veloso)
2. GUÁ (Perinho Albuquerque/Caetano Veloso)
3. PELOS OLHOS (Caetano Veloso)
4. ASA (Caetano Veloso)
5. LUA, LUA, LUA, LUA (Caetano Veloso)
6. CANTO DO POVO DE UM LUGAR (Caetano Veloso)

Lado B
1. PIPOCA MODERNA (Caetano Veloso/Sebastião Biano)
2. JÓIA (Caetano Veloso)
3. HELP (Lennon/McCartney)
4. GRAVIDADE (Caetano Veloso)
5. TUDO TUDO TUDO (Caetano Veloso)
6. NA ASA DO VENTO (Luiz Vieira/João do Vale)
7. ESCAPULÁRIO (Caetano Veloso/Oswald de Andrade)



Manifesto do Movimento Jóia
Caetano Veloso

respeito contrito à idéia de inspiração. alegria. saber a calma para ir perder a pressa para estar. inspiração quer dizer: todo esforço em direção a esforço nenhum, nenhum esforço em direção a todo esforço em direção a esforço nenhum. todo esforço em direção a nenhum esforço em direção a todo esforço em direção a nenhum. todo esforço em direção a nenhum esforço em direção a todo esforço em direção a nenhum esforço em direção ao todo.

nenhum círculo é vicioso a ponto de impossibilitar o verde, o aparecimento do verde, a esperança do aparecimento do verde, escrevo livre da insensatez azul e do equilíbrio amarelo.

respeito contrito à idéia de inspiração. jóia. meu carro é vermelho. inspiração quer dizer: estar cuidadosamente entregue ao projeto de uma música posta contra aqueles que falam em termos de década e esquecem o minuto e o milênio.

inspiração: águas de março.

o sexo dos anjos. e não fazemos por menos.







1975
Revista POP 
Junho n° 32 





 

1975 / Junho
Revista
MÚSICA
do planeta terra
Ano 1 - N° 1 
Editor: Júlio Barroso
Co-editor: Antônio Carlos Miguel 
Editora Abril




JÓIA E QUALQUER COISA

Esses dois discos foram produzidos ao mesmo tempo, gravados ao mesmo tempo e lançados ao mesmo tempo. Gravei como quem grava um disco dupla, mas sentindo que, fazendo uma separação de repertório, dariam dois discos: sendo o Jóia um disco de sons mais limpos, espécie de versão mais serenizada dos desejos experimentais, também com canções mais curtas; Qualquer coisa ficou sendo um disco de canções variadas, com músicas dos Beatles, canções pop — como a própria música-título, Qualquer coisa, que o Roberto Carlos gosta imensamente e queria muito ter gravado. Ele mesmo disse: "Essa canção é que você deveria ter me dado para gravar." Ele adora.

Escolhi esses dois nomes exatamente pelo contraste entre eles, a diferença entre o que é "jóia" e o que é "qualquer coisa". Evitei fazer um disco duplo, que acho um pouco chato. A gente se perde pelo excesso de informação. Embora reconheça que alguns artistas arrebentaram no disco duplo. Steve Wonder, por exempla. O ápice da vida dele é o disco Songs in the key of life, que é dupla e duplamente genial. Mas naquele dos Rollings Stones, Exile on Main St., que é tão querido, eu me perco com a variedade de canções. O próprio disco branco dos Beatles, que é lindíssimo, ali também a gente se perde um pouco na floresta de sons. É muita coisa.

Então, nào quis fazer duplo e optei por separar o repertório em dois discos. Qualquer coisa resultou muito mais comercial do que o Jóia. Não vendeu muito, porque os meus discos não vendiam muito, a não ser em dois ou três momentos atípicos e esporádicos. Em geral, era uma venda para mim alta, mas pequena para o mercado. São os primeiros discos feitos no Rio, desde Domingo, pois os outros todos foram feitos em São Paulo ou em Londres (e um de Salvador, o disco de capa branca). Esses dois marcam o meu retorno para o Rio de Janeiro.

A capa do disco Jóia me trouxe alguns problemas com a censura. Fizemos a foto — eu, Dedé e Moreno —, eu e Moreno nus e Dedé usando uma saia de pano cru. Usei a fotografia e pintei em cima com lápis de cor. Pedi ao artista da gravadora para desenhar um pássaro, a ser colocado em cima do meu sexo, para não ficar com a genitália exposta. O resultado até que ficou suave e familiar, mas fizeram um escarcéu danado, recolheram os discos das lojas e até ameaçaram tirar o Moreno de nossa guarda. Tive que dar explicações a Polícia Federal, juntamente com o André Midani, que dirigia a gravadora. Disse aos censores que a idéia de capa era minha, que ela não tinha nada de ofensivo, não aparecia órgão sexual nenhum. A capa foi recolhida e tivemos que fazer outra, somente branca e com os pássaros espalhados por ela, juntamente com a minha assinatura. 

[Depoimento de Caetano Veloso a Charles Gavin e Luís Pimentel em TANTAS CANÇÕES (livro da Caixa TODO CAETANO 2002), pag. 46]




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