miércoles, 8 de junio de 2016

1978 - Programa VOX POPULI








... Outro dia li um jornalista reclamando que falo sobre tudo e mais alguma coisa. A piada da “Piauí”, em que apareço com uma capa de magistrado do STF (que, aliás, na montagem fotográfica me caiu muito bem), sob uma manchete que dava conta de que uma decisão momentosa ia ser arbitrada por mim, é engraçadaça. Me mostraram um vídeo no YouTube em que estou dizendo a alguém “Você é burro, cara”. Eu repetia que o cara era burro e dizia que ele formulara a pergunta de modo tão burro que eu não conseguia sequer memorizar. Meu amigo Eduardo Sá achou de onde tiraram esse clipe. Foi de um programa de TV chamado “Vox Populi”. É dos anos 1970. Eu tinha o cabelo muito longo, muito preto e muito cacheado (esses dois últimos atributos sendo os de que tenho mais saudade). E falava com uma mistura um tanto estranha de moleza e arrogância. O quadro do período explica minha atitude. Eu tinha começado o trabalho com A Outra Banda da Terra sob apedrejamento crítico. O disco “Muito” foi achincalhado como sendo a prova final de minha inépcia e falta de inspiração. “Sampa” e “Terra” estavam sendo lançadas nesse disco. Anteontem reli um artigo de Tárik de Souza em que ele avalia, com forte espírito de corpo jornalístico, minhas brigas com a imprensa da fase que se seguiu a esse lançamento. Quem eu tinha chamado de burro era Geraldo Mayrink, da “Veja”, que destacava frases de músicas de Ary Barroso, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que eu citara em minhas letras, como exemplos de maus versos, crendo que eram meus (eram de músicas muito conhecidas por quem atentasse para a MPB). Sei que eu estava certo, mas não me senti bem vendo o vídeo. Valeu para eu poder mostrar a meu filho mais novo meu pai falando (ele aparece fazendo pergunta íntima). Mas meu desejo de desprezar as opiniões negativas sobre meu trabalho me irritou um pouco. Preferi ver um “Roda Viva” em que eu, mais velho (com o cabelo já liso mas ainda todo preto), falo “de tudo”, mas em tom mais modesto....”

(O GLOBO, Coluna Caetano Veloso, 19/5/2013, QUASE NADA)


STF: Supremo Tribunal Federal







“...Submeteremos todas as decisões do Supremo ao juízo elegante de Caetano Veloso. Não há assunto nesta terra sobre o qual o vate popular não tenha uma opinião justa e abalizada...” (26/4/2013, Henrique Alves)





Em 1978, Caetano Veloso foi o entrevistado do Programa Vox Populi da TV Cultura; ele aceitou responder as perguntas do público.

Questionado pelo crítico Geraldo Mayrink (1942/2009) sobre a sua opinião a respeito da imprensa e dos meios de comunicação de massa, Caetano se irrita e fica 20 segundos dizendo “você é burro, cara”.



































 

Revista VOGUE - Brasil n° 151, fevereiro 1988
 

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